Abordagem da violência na perspectiva dos trabalhadores da Atenção Primária à Saúde

Resumo

Introdução: Uma vez que a violência é exercida, sobretudo, enquanto processo social, a temática não é, por si só, objeto específico da área da saúde. Todavia, além do atendimento das vítimas, o campo da saúde tem a função de elaborar estratégias de prevenção de conflitos e de promoção da saúde. Portanto, a violência não é objeto específico da saúde, mas está intimamente ligado a ela na medida em que o setor participa do conjunto das questões e das relações da sociedade.

Objetivo: Analisar o fenômeno da violência e sua abordagem sob a perspectiva dos profissionais que atuam na APS do meio-oeste catarinense. Metodologia: Estudo qualitativo, cujos dados foram obtidos através da realização de grupos focais, e com conteúdo analisado à luz da hermenêutica dialética.

Resultados e Discussão: Historicamente o campo da saúde acompanhou o fenômeno da violência na condição de expectador ou de contador de eventos, e na atualidade os trabalhadores do setor acabam se confrontando com esta realidade em sua prática profissional, ainda que nem sempre estejam suficientemente preparados para assumir tais atribuições. Por outro lado, a ESF se constitui em um novo modelo de atenção à saúde, e em razão da proximidade de contato com a realidade vivenciada pelas famílias (inclusive com atendimentos prestados em domicílio), e do acompanhamento das mesmas em longo prazo (longitudinalidade), os profissionais que atuam na ESF desenvolvem vínculos de confiança com os usuários, de tal forma que estes trabalhadores se encontram em uma posição privilegiada não só para a detecção precoce dos casos de violência na comunidade, mas também para intervirem de modo preventivo na identificação e abordagem dos grupos mais vulneráveis.

Conclusões: Afinal, a violência, antes de ser um problema de cunho intelectual, é uma questão da práxis sócio-política. Logo, requer a busca das condições sociais que a engendram. O contrário da violência não é a não violência, é a cidadania e a valorização da vida humana em geral e de cada indivíduo no contexto do seu grupo específico.