Governo dos excessos: promoção da saúde no controle do excesso de peso
Resumo
Introdução: Na última década, o Brasil liderou o ranking de consumo de medicamentos para emagrecer per capita. Além disso, em 2009, foi o país que realizou o maior número de lipoaspirações. Instigada por estes surpreendentes e preocupantes dados Brasileiros, nesta pesquisa busquei pensar acerca da temática do emagrecimento, da alimentação e dos cuidados de si em suas relações com a constituição dos corpos.
Objetivos: Investigar como discursos provenientes do campo das Ciências da Saúde e profissionais das equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), através de suas práticas para o controle do excesso de peso, relacionam-se com essa cultura de supervalorização da magreza e de aversão à gordura.
Metodologia ou Descrição da Experiência: Trata-se de uma pesquisa de cunho etnográfico, realizada em práticas de promoção da saúde executadas por profissionais de uma Unidade de Saúde (US). Foram acompanhadas as reuniões de um grupo de emagrecimento e as atividades vinculadas ao Programa Saúde na Escola realizadas em uma Escola Estadual de Ensino Fundamental adscrita ao território desta US. A análise textual também compreendeu o caderno de campo e documentos oficiais Brasileiros – Guia Alimentar para a População Brasileira, Manual Operacional para Profissionais da Saúde e Educação, Ciência Hoje na Escola – fornecidos como subsídios teóricos e/ou didáticos para as práticas de promoção da saúde realizadas pelas equipes de ESF.
Resultados: A partir da análises, aponto que as práticas de promoção da saúde acompanhadas corroboravam com a rede heterogênea de elementos estrategicamente direcionados ao governo dos corpos, com a finalidade de prevenir e controlar o excesso de peso práticas de promoção da saúde. Sendo assim, a abordagem focada na prevenção das doenças, a patologização do excesso de peso, o uso de técnicas de vigilância e o ensino de tecnologias de autocontrole reforçavam a estigmatização do excesso de peso e, talvez, agravavam os sentimentos de insatisfação corporal experienciado por alguns participantes.
Conclusão ou Hipóteses: Problematizar a estigmatização do excesso de peso é necessário, a fim de que a promoção da saúde contribua para a discussão dos padrões estéticos e de saúde atuais, e que traga subsídios para que os cuidados com a alimentação, dentre outras atitudes de mudança de hábitos, sejam vivenciados com mútliplas potências e não somente como adaptação à norma estética/médica do corpo magro/saudável.
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