Nas margens da política pública: desafios da atenção integral às travestis

Resumo

Introdução: A construção de linguagens específicas para o enfrentamento da epidemia da Aids possibilitou a visibilidade de grupos que até então eram silenciados pela heteronormatividade. Discutir a implementação da Política Nacional de Saúde Integral LGBT é um recorte possível para compreender a complexidade e a urgência de preparar os profissionais da saúde para o atendimento das travestis no SUS.

Objetivos: Apresentar e discutir os efeitos da discriminação e da exclusão no processo de saúde-doença da população de travestis e as estratégias construídas no Ambulatório Saúde das Travestis voltadas para a redução das desigualdades relacionadas ao acesso e ao cuidado em saúde.

Metodologia ou Descrição da Experiência: Apesar do crescimento do debate sobre sexualidade e gênero no campo da saúde, as travestis ainda constituem um segmento pouco conhecido. O grau de exclusão social e vulnerabilidade em saúde alcançam indicadores muito preocupantes. O adoecimento por diferentes DST e Aids, os problemas decorrentes do abuso de álcool/outras drogas, bem como de silicone líquido industrial e hormônios resultam no cotidiano de mortes prematuras (antes de completar 30 anos de idade) identificadas por diferentes autores. Cientes dessa problemática, iniciamos, em 2007, o atendimento específico a essa população oferecendo uma abordagem integral de cuidados com periodicidade semanal e com equipe interdisciplinar.

Resultados: Superamos alguns desafios como a desconfiança das travestis em relação a um serviço que se propunha a acolhê-las, traduzida pelo receio em serem submetidas a tratamentos e exames compulsórios. Encontramos estratégias para lidar com o constante deslocamentos das mesmas que dificultava a continuidade do atendimento e a constituição de um vínculo de cuidado. Construímos um aprendizado sobre as adequações da clínica, com a elaboração de anamneses específicas e fichas de acompanhamento que permitissem o acolhimento e a identificação de suas demandas e também a proposta de protocolos que acabaram por contribuir para a elaboração da Linha de Cuidados que o Ministério da Saúde está propondo.

Conclusão ou Hipóteses: A continuidade da atenção a essa população permitiu maior sensibilização da equipe para demandas específicas das travestis e demonstram a pertinência da produção de pesquisas e extensão que expressam a responsabilidade social da Universidade não somente com a produção de saberes, mas também a circulação dos mesmos para o empoderamento e a melhoria das condições de saúde dos grupos vulneráveis.