O doente psíquico grave na atenção básica: é possível?

Resumo

Introdução: O Departamento de Neurociências e Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Bahia desenvolve, há seis anos, o Programa Saúde Metal–Vale do Jiquiriçá (PSM-VJ): atividade de extensão e integração ensino-serviço em saúde mental no nível primário de atenção à saúde, em três municípios de pequeno porte.

Objetivos: Relatar a experiência do PSM-VJ no desenvolvimento de ações de cuidado a sete pacientes em grave sofrimento psíquico no contexto do território, a partir dos registros do acompanhamento.

Apresentação: Os municípios de atuação do PSM-VJ possuem como rede de cuidado unidades de saúde da família e pequenos hospitais gerais. Todos os sete doentes em grave sofrimento psíquico têm diagnósticos dentro do campo das psicoses. Apenas dois nunca foram internados em manicômios. Ao adoecerem, tiveram suas redes sociais potencialmente fragilizadas (vizinhança, familiares) pelas internações e, no caso dos não-internados, por manifestação de retraimento social e embotamento afetivo. A criação de planos terapêuticos individualizados - envolvendo os agentes comunitários de saúde, a equipe do PSM-VJ, os familiares, a vizinhança, escolas e programas sociais, as visitas domiciliares e a adaptação da técnica do acompanhamento terapêutico - possibilitaram a reabilitação de seis dos sete pacientes, com níveis de funcionalidade diferentes. Um dos doentes, que apresentava psicose orgânica refratária, necessitou de internações sucessivas em hospitais psiquiátricos e veio a óbito após sua ultima alta, sem causa esclarecida.

Considerações finais: É possível e preferível o manejo de doentes psiquiátricos em nível de atenção primária no território, ainda que as nosologias diagnosticadas sejam graves, tornando as internações dispensáveis na maioria das situações. Trazer essa experiência para a formação dos profissionais de saúde implica aproximar o perfil dos egressos das escolas do perfil idealizado pela reforma psiquiátrica.