Fatores associados ao padrão de continuidade da violência por parceiro íntimo
Resumo
Introdução: A gravidez e o pós-parto são períodos que facilitam a investigação da violência por parceiro íntimo (VPI), pois a frequência da mulher aos serviços de saúde é maior por causa das consultas de pré-natal e puericultura. Os estudos realizados mostram que a violência é um problema grave que afeta negativamente a saúde da mulher e da criança e, na maioria das vezes, apresenta um padrão de continuidade.
Objetivos: Descrever o padrão de continuidade da VPI no período em torno da gestação e identificar os fatores associados à continuidade da VPI no pós-parto de mulheres de 18 a 49 anos, cadastradas no Programa Saúde da Família do Distrito Sanitário II da Cidade do Recife.
Metodologia ou descrição da experiência: Estudo de coorte prospectivo realizado com 960 mulheres de 18 a 49 anos, cadastradas no Programa Saúde da Família da cidade do Recife, nordeste do Brasil, entre 2005 e 2006. Foram realizadas entrevistas face-a-face, durante a gestação e o pós-parto. O questionário foi elaborado a partir do Estudo Multipaíses sobre a Saúde da Mulher e Violência Doméstica da Organização Mundial da Saúde. Foi construído um modelo teórico-conceitual com 3 blocos, hierarquicamente ordenados, para analisar a associação entre a continuidade da VPI e a dinâmica da relação, as características comportamentais e o perfil socioeconômico e demográfico da mulher e do parceiro. A análise foi realizada através do Stata 8.0.
Resultados: A VPI antes, durante e/ou depois da gestação foi referida por 47,4% mulheres. VPI antes da gestação aumentou a chance de relatos na gravidez em 11,6 vezes (IC95%: 8,3-16,2). No pós-parto a VPI foi 8 vezes maior (IC95%: 5,80-11,69) para mulheres com relatos na gravidez e 7 vezes maior (IC95%: 5,06-10,34) quando havia relatos antes e durante a gravidez. Os fatores associados à continuidade de VPI no pós-parto foram: uso de drogas (RP=1,5; IC95%: 1,1-2,0) e comportamento controlador do parceiro (RP=2,5; IC95%: 1,2-5,2), experiência da mulher de violência na infância (RP=1,5; IC95%: 1,1-2,1) e VPI antes da gestação (RP=3,0; IC95%: 2,0-4,7) e brigas frequentes do casal (RP=3,6; IC95%: 1,5-9,1).
Conclusões ou hipóteses: A VPI no pós-parto está envolvida numa complexa rede de fatores associados, com destaque para os aspectos da qualidade da relação entre o casal. Os períodos de consultas de pré-natal e de puericultura são oportunidades para que o profissional de saúde da Atenção Primária possa identificar situações de violência. Políticas públicas que promovam o manejo adequado da VPI são necessárias.
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